A vida humana não vale nada!


 A linha telefónica de passagem de dados dos meios de socorro (ambulâncias) em situações de emergência médica ao Centro de Orientação de Doentes Urgentes do INEM entra quotidianamente em colapso, o que determina que em situações críticas, as vítimas que careçam de suporte imediato de vida, suporte avançado de vida, ou helitransporte, podem em muitos casos não ter este tipo de assistência em tempo útil, podendo esta situação constituir causa de morte em vários casos. 

A situação é recorrente, e o número de denúncias públicas acumulam-se par do número de denúncias de casos em que comuns cidadãos ligam 112 e ficam sem resposta ao fim de várias tentativas que ultrapassam por vezes os 20 minutos.

Efetivamente observa-se que com a ocorrência de fenómenos meteorológicos extremos, surtos, intoxicações coletivas, … a situação tem vindo a agravar-se significativamente, o que me deixa preocupado com a capacidade de atendimento em caso de ocorrência simultânea de acidente grave ou mesmo de uma catástrofe.

Considero por tudo isto de extrema insensibilidade e insensatez, que perante as frequentes notícias que surgem na comunicação social, de pessoas que denotam preocupação, venha um qualquer organismo público desvalorizar os factos, reduzindo vidas humanas a meros números, invocando números estatísticos para tentar justificar o injustificável, o que prova antes de mais a possível incapacidade de resposta do sistema em caso de acidente grave, ou catástrofe.

Os números desvalorizados por fonte oficial, são na realidade vidas humanas, e por esse motivo, mesmo que somente uma vida seja perdida pelo facto do sistema não ter possibilitado o acionamento do socorro através do 112, já seria imperdoável, não se compreendendo portanto tão hedionda insensatez em argumentações meramente numéricas.

Muitos dos relatos de denúncia que são notícia, são originados por profissionais do próprio INEM e de outras entidades integrantes do Sistema Integrado de Emergência Médica, bem como de agentes das próprias forças de segurança, que preocupados, relatam geralmente em anónimo não conseguir inúmeras vezes estabelecer contacto com a linha de passagem de dados do INEM, ou contacto com a linha 112 respetivamente, pelo que o facto me causa extrema perplexidade e estupefação face à tipologia de respostas dadas nestes casos por fontes oficiais.

Na passada semana, foi notícia o facto de um Técnico de Emergência do INEM ter estado 34 minutos a aguardar que lhe atendessem o telefone para passar dados.
Estou absolutamente convicto de que os organismos visados só não dispõem de informação sobre estes casos porque estranhamente as centrais 112 ou dos CODUs do INEM não dispõem aparentemente de registo de chamadas perdidas, de outro modo, o sistema poderia ser penalizado e os reconhecimentos de bom desempenho poderiam converter-se em coimas e procedimentos judiciais infindáveis.

Preocupa-me ainda que tal situação afete somente comuns cidadãos, uma vez que os VIPs de Estado dispõem de uma linha dedicada, sem tempos de espera ou chamadas não atendidas, o que me causa a sensação de que há vidas que valem muito, e outras vidas humanas que para esses não valem nada!

Este facto insta-me a colocar as seguintes questões:  
Quão humanitária é a nossa política?
Quem defende a vida humana como valor máximo da humanidade?


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