NÃO ESTAMOS A FAZER TUDO PARA MITIGAR O RISCO DE INCÊNDIOS...

Continuamos a apostar pouco na prevenção e aparentemente o Governo poupa mesmo na prevenção para reservar para a intervenção, acabando por lesar o erário público em vários milhões de Euros que poderiam ser poupados.

Os drones adquiridos para a vigilância florestal não estão a ser usados e, não se está a divulgar a sua ação como forma dissuasora dos comportamentos de risco.

Muitos cidadãos continuam a lançar fora cigarros mal apagados e, se algum outro cidadão os repreende, ainda é agredido verbal ou mesmo fisicamente. É necessário que seja clarificado que perante qualquer ilícito criminal qualquer cidadão pode capturar imagem do agente do crime e, possa fazer uso dessa imagem junto das autoridades que a aceitaram como matéria prova. Deste modo estar-se-á também a fazer prevenção.

Apesar das propostas de envolvimento das comunidades de radioamadores e de radio-operadores em projetos de vigilância de comportamentos de risco nas florestas, o Governo Central e as Autarquias continuam a ignorar esta possibilidade de reforço da prevenção.

Os reacendimentos resultam muitas vezes de ineficácia no rescaldo que deveria competir aos sapadores florestais de cada concelho, contudo em inúmeras autarquias que recebem verbas para esse efeito os sapadores florestais não são vistos há vários anos.

Os órgãos de comunicação social e alguns grupos nas redes sociais continuam a promover os incêndios com a propagação desmedida de imagens de incêndios que alimentam o ego a qualquer potencial incendiário. É necessário regulamentar a difusão de imagens de incêndios.

A população e os órgãos de comunicação social tornaram-se de um modo geral discriminadores dos combatentes das chamas e, referem geralmente apenas uma das forças que combatem as chamas no terreno.

Observa-se ainda que populares continuam a intervir no combate aos incêndios sem quaisquer condições de segurança ou organização, por vezes de forma isolada, sendo aparentemente a responsabilidade deste comportamento das autarquias que não criam as Unidades Locais de Proteção Civil previstas na Lei, que possibilitariam envolver toda a população que as quisesse integrar, possibilitando a sua intervenção ordenada e coordenada ao invés do que se observa.

O atual modelo de dispositivo de combate aos incêndios florestais continua a ser arcaico e centrado essencialmente em duas ou três entidades quando deveria repartir direitos e deveres por toda a população e todas as entidades públicas e privadas. Tal só pode estar aparentemente a acontecer para continuar a proteger lobbies e, se assim for não existam dúvidas de que este ano será excelente para a industria dos incêndios florestais.

O risco e o incêndio sempre existirá, mas o que se observa é uma forma de justificar o manancial financeiro que alimenta a industria do sector dos incêndios em espaços naturais.

A Guarda Nacional Republicana através do GIPS e do SEPNA, bem como outras entidades, têm realizado um importante trabalho de prevenção de incêndios ao mesmo tempo que atuam na dissuasão dos comportamentos de risco, mas, a escassez de recursos humanos e materiais é uma realidade que limita a sua eficácia.

Para o ano o orçamento para combate aos incêndios será certamente ampliado, mas dificilmente se ampliará o orçamento destinado à prevenção, eventualmente porque a industria da intervenção move mais influências que as entidades dedicadas à prevenção, e assim persistirá a encenação!

É urgente prevenir pela via da sensibilização, criando na população uma cultura de segurança que não tem. É geralmente o facilitismo que provoca os incêndios de causa negligente, ainda há horas  um detido dizia ao agente que o deteve " não pode ser, toda a vida aqui acendi o lume e nunca peguei incêndio nenhum". Faltam campanhas educativas nos órgãos de comunicação social, porque o que vende é o acontecimento. Não basta replicar os vídeos de outros anos que ninguém quer ver duas vezes, é necessário inovar e fazer todos os anos um vídeo de sensibilização que passe na TV e um spot que passe na rádio. A prevenção através da sensibilização deve ser primeira página dos jornais e não os efeitos da sua ausência.

A política de ordenamento florestal continua a ser falaciosa e pouco mudou.

Não estamos a fazer tudo o que é possível fazer para mitigar incêndios em espaços naturais, porque aparentemente arder é o que rende mais e, enquanto isto usa-se e abusa-se dos operacionais da intervenção aproveitando-se a sua dedicação para os explorar como "carne p´ra canhão".

Digo eu, que não percebo nada disto!

João Paulo Saraiva

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