Carta aberta ao Ministro da Educação (Os TPC são para os encarregados de educação)

Exmo Sr. Ministro da Educação
Exmos Encarregados de Educação
Caros colegas docentes

Venho pelo presente manifestar a minha indignação com o sistema educativo e, nomeadamente com a política de TPC´s.

Os trabalhos para casa não são obviamente para os alunos, que se estivessem preparados para os realizar autonomamente não necessitariam leva-los para casa, mas sim para delegar nos encarregados de educação responsabilidades de um sistema educativo com graves lacunas, e de docentes improficuos na sua função quer por incapacidades diversas, quer mesmo pelo facto de terem turmas excessivamente numerosas e por isso não conseguirem dar a cada aluno a atenção indispensável ao sucesso da sua aprendizagem.
É sabido que há escolas de referencia no que concerne ao sucesso da sua missão que não delegam TPCs para casa. É também sabido que os encarregados de educação no fim de um dia de trabalho, num feriado ou fim de semana ( quando têm a sorte de ter emprego), estão muitas vezes esgotados e por isso incapazes de auxiliar os seus educandos nessa tarefa, existindo ainda os casos de encarregados de educação com baixa escolaridade e que por isso não dominam determinadas matérias, ou, portadores de doença ou deficiência cognitiva que os incapacita para tal, e que geralmente estes não possuem capacidade económica para custear explicadores. Cria-se portanto com os TPC´s uma discriminação em que a aprendizagem do aluno fica condicionada à capacidade do encarregado de educação corresponder ao desejado pelo docente.
É sabido que a função de ensinar é dos encarregados de educação, que a delegam no sistema de educação, suportado através dos impostos dos contribuintes, mas que esse mesmo sistema de educação rejeita parcialmente ao delegar trabalhos para casa.

Imagine-se por exemplo o caso de um encarregado de educação divorciado, com 3 educandos à sua guarda, que trabalha todos os dias das 9 às 19 horas, e que se levanta cedo para preparar e deixar os filhos na escola, faltar ao trabalho para estar presente nas reuniões escolares, consultas dos seus educandos e demais situações inerentes, que no final de cada dia de trabalho se submete às intermináveis filas de transito, ou aos transportes públicos para recolher e regressar com os seus educandos a casa, dar-lhes banho, preparar a refeição da noite e as refeições para o dia seguinte ou pelo menos parte delas, passar a ferro, lavar roupa e loiça,... Parece-lhe que estará nas melhores condições físicas e psicológicas para ajudar os seus educandos na realização dos TPC´s?

Como se não bastasse tudo isto, ainda há o aspecto da qualidade dos manuais e passo a dar um exemplo....
Pergunta-me um dos meus filhos com 8 anos, para responder a um exercício de TPC: " a frase " os humanos têm todos os mesmos direitos" é verdadeira ou falsa"?
Só me ocorreu responder: em teoria é verdadeira, na prática não, há humanos que são mais "humanos" que outros! E agora?

Concluo portanto que os TPC´s são algo criado para educandos e encarregados de educação de um determinado nível da nossa sociedade, que discrimina todos os demais, cria assimetrias e falta de equidade, e portanto só posso concluir que se trata de uma enorme injustiça social, senão mesmo uma injustiça de direitos humanos.  

A redução significativa do número de alunos  aos limites que a pedagogia recomenda para a formação profissional ou seja 12 alunos por professor nas matérias teóricas, ou 6 nas matérias práticas, possibilitaria melhorar os resultados alcançados e uma maior disponibilidade para a atenção a cada aluno.
Um sistema de tele-escola complementar à acção em recinto escolar, ou mesmo as plataformas e-learning a partir da idade recomendada possibilitariam complementar a acção do professor, sem sobrecarregar o encarregado de educação, ou reduzindo essa sobrecarga, mas tal implicaria condição económica dos encarregados de educação para suportar os equipamentos de ligação, suas licenças, taxas, e manutenção, o que se não suportado pelo sistema gera ainda mais assimetrias, mais discriminação.      

Creio por isso estar-mos perante um sistema educativo que discrimina por inércia, que pune por incapacidade, que penaliza por improficuidade, e que acentua ainda mais às injustiças sociais.

Mas gostaria ainda de deixar no ar outra questão, e quando o encarregado de educação é também ele docente, será que no fim de um dia de trabalho a ensinar na escola, com a remuneração que todos nós conhecemos, estará motivado para ir para casa fazer aquilo que pelos mais diversos motivos o seu colega não conseguiu fazer em ambiente escolar?

Em minha modesta opinião os TPC´s não são para os alunos, são para os encarregados de educação, e penalizam-os severamente, são uma autentica tortura psicológica. Imagine-se acrescentar a todas as tarefas diárias "ainda tenho de ajudar os meus 3 educandos a fazer os TPC´s"!

Mas se aos encarregados de educação lhes é retirado o tempo para transmitir aos seus educandos outros valores que lhe compete transmitir quando progenitores ou familiares mais próximos, quem lhes transmite esses valores?  Não estaremos a "educar" gerações sem valores, que somente servem a economia e finanças?




Pergunto eu, que não percebo nada disto!

Comentários

Mensagens populares