ASSISTÊNCIA E SOCORRO EM EVENTOS PRIVADOS

Os meios de socorro públicos na prevenção a eventos, nem protegem o evento nem protegem o meio público...

Dizem por ai que quando uma ambulância de Bombeiros Municipais (ou mesmo Bombeiros associativos, ou CVP) está de prevenção a um evento, tanto protege o evento privado como protege o meio público, mas permitam-me discordar pelo seguinte:

O contratante do evento contrata para ter um meio em permanência no local do evento, logo se surgir uma emergência ali ao lado em espaço do domínio público, o meio pode ser retirado da prevenção ao evento privado que deixa assim de assistir no local caso exista uma ocorrência no evento, podendo dai resultar mesmo a perda de vidas. Respondem a isso depois os responsáveis das entidades prestadoras de transporte em ambulância que o contratante deve ter pelo menos duas ambulâncias, embora isso lhe custe mais caro, ou seja, paga a dobrar para que se uma for socorrer fora do evento tenha outra (muitas vezes sob a alegação de que se uma for transportar alguém do evento a outra fica lá de prevenção), mas e se forem necessárias as duas para um acidente grave?! Pagam gato por lebre.

Sejamos realistas, as ambulâncias são meios de transporte assistido, não são postos de socorros, e mobilizar ambulâncias como postos de socorros parece-me algo tão adequado quanto utilizar tratores para serviço de táxi, ambos transportam, mas não é a função de um deles.

Na realidade já concordei com meios de socorro público em prevenção a eventos privados, mas na analise que tenho feito nos últimos anos, e face à escassez de meios por vezes verificada, mudei de ideias. Penso que é errado por exemplo colocar meios de socorro público em eventos privados, e não faz sequer na maioria dos casos qualquer sentido dispor de ambulância no local, porque por um lado a ambulância alocada pode não ser o meio adequado à situação da vítima, e por outro lado, faz em minha convicção mais sentido dotar os eventos de postos de socorros com equipas especializadas, ou mesmo equipas apeadas, automobilizadas, ou mesmo em bicicleta, capazes de assegurar a assistência e possibilitar a estabilização da vítima, sendo que se caso disso acionará o meio de transporte urgente ou emergente mais adequado ao estado da vítima, isso sim faz sentido e não retira do sistema de resposta à emergência o que deve estar no sistema publico de resposta à emergência, e que chega mesmo a motivar que se diga por ai que há falta de voluntários, quando este serviço deve ser totalmente profissional.

Mas analisemos um caso hipotético...
Faz algum sentido que hipoteticamente uma ambulância CB X esteja de prevenção a um evento em Belém, e por isso não responda a um atropelamento no Restelo, e por isso o socorro for mais moroso por indisponibilidade de meios?
Então e se responder  ao atropelamento, pouco depois ocorrer uma queda, uma hipoglicémia, ou mesmo uma PCR no evento para que estavam contratados?

Então e se no evento estivesse uma equipa apeada da entidade X ou Y, que em caso de necessidade de transporte solicite meio ao CODU ou outro, e tenha capacidade instalada (equipamento e recursos humanos à altura) para resolver no local algumas situações que geralmente as ambulâncias se limitam a transportar?

Há ainda outros aspetos a considerar, por exemplo a adequação do traje e o saber estar.
Na minha experiência de mais de 20 anos na prevenção a eventos, compreendi que não é qualquer técnico que sabe estar em determinados tipos de eventos, uns porque falam de mais, outros porque bebem demais, outros porque olham demais, outros porque odoram demais, outros por falta de postura, higiene, aparência cuidada e aprumo. Por outro lado um traje de combater incêndios ou transportar doentes não se adequa a muitos tipos de eventos.  
Há eventos em que o técnico tem de estar de fato e gravata, e muitos nem fato têm, quanto mais saber fazer o nó da gravata, mas por vezes nem se trata de incapacidade económica para o efeito, ou incapacidade de aprender a fazer o nó da gravata, em alguns casos apenas o fato e gravata não faz o seu estilo, e isto deve ser respeitado.

Depois há os aspetos vocacionais...
Nem todo o técnico está vocacionado para os eventos, os eventos não são como fazer socorro na via pública, embora todos mereçam de quem socorre o seu melhor, há aspetos diferenciadores e, tem de haver diferentes protocolos de atuação, até porque só faz sentido que prestem socorro em eventos entidades quem tenham a sua própria direção técnica, que integrem médico e eventualmente enfermeiro que assegure a tutela, o controlo de qualidade, e assuma a responsabilidade técnica e legal.

Mas há mais, o aspeto dos seguros...
O seguro do voluntário em bom rigor não cobre riscos num evento em que o elemento deixa de ser voluntário e passa a estar como remunerado, nesse caso aplica-se um seguro para atividades profissionais, e vice-versa, e neste campo o que se observa é muitas vezes ilícito.  

Continuamos  a ter por ai organizações cujos seus elementos transportam, socorrem na via pública, fazem salvamento, apagam incêndios, buscam pessoas, e até fazem prevenção a eventos. Um pouco como o pato que nada, voa, canta, mergulha, e flutua; mas que nada pouco, voa mal, pouco canta, pouco mergulha, mas flutua bem.

Nestes mais de 20 anos de experiência nos eventos, encontrei Bombeiros, Tripulantes do INEM / CVP / Privados, Médicos, Enfermeiros, técnicos de CPL,..., muitos aptos para os eventos, outros nem por isso!

Selecionar técnicos de assistência e socorro para eventos é em minha opinião um pouco como selecionar tripulantes de bordo. Tem de ter apresentação, competência, simpatia, e saúde. Mas em caso de acidente grave os duros também lá fazem falta. Não é fácil!

Este assunto tem origem num repto que me foi lançado por uma revista da especialidade, e que aqui partilho no intuito de despertar consciências sobre o tema, e eventualmente gerar debate.

Digo eu, que não percebo nada disto!

#eventosprivados #ambulâncias #socorro

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