PORQUE FALHARAM AS COMUNICAÇÕES EM PEDROGÃO GRANDE? (parte I e II)

PORQUE FALHARAM AS COMUNICAÇÕES EM PEDROGÃO GRANDE?

    Porque arderam as linhas de alimentação em pelo menos uma TBS (TETRA base station) (estação retransmissora SIRESP), e as baterias não têm autonomia por falta de manutenção, ficou precocemente inoperativa;
     O facto de alegadamente  terem ardido linhas de dados que asseguram a ligação de dados entre TBS e servidor, mas sobre isto nem me vou alongar por esta via, explicarei em pormenor pessoalmente a quem interesse na estrutura;
    Porque não existem redundâncias ao SIRESP que foram aparentemente pagas mas não instaladas;
    No domingo de manhã chegou ao terreno pouco passava das 5horas, uma viatura da SIRESP S.A., alegadamente a única que está operacional, apesar de recentemente a ANPC ter adquirido duas pick-up com semelhante missão. A viatura foi colocada num local que somente possibilitava garantir pouco mais de 1/3 da cobertura dos teatros de operações;
    Os terminais SIRESP portáteis estão equipados com antena helicoidal encurtada para proporcionar mais comodidade no seu transporte, antenas essas que somente se adequam ao meio urbano. Enviar pessoas com rádios com aquelas antenas encurtadas e não de quarto de onda completo, para incêndios florestais onde há reduzida cobertura, é logo à partida enviá-las para a possibilidade de morte;
    O número de canais disponíveis no local somente possibilitaria assegurar uma rede estratégica, contudo como os operadores da ANPC ignoram os aspetos técnicos do sistema TETRA, começaram por atribuir logo à partida mais talk groups do que aqueles que face ao volume de tráfego expectável o sistema poderia suportar, tendo saturado todas as slot´s dos canais disponíveis no local;
    O facto de se ter deixado de fazer manutenção aos rádios portáteis de VHF banda alta, nomeadamente a substituição de baterias já sem autonomia, levou a que se sobrecarregasse uma rede SIRESP com características somente adequadas à estratégia e alta-direção, com tática, manobra, e comando;
    Alguns terminais SIRESP sofrem da mesma falta de manutenção de baterias...;
    A distribuição de operadores rádio no posto de comando era a típica de um cenário de operações de socorro e não de uma operação de proteção civil, se em teoria as duas viaturas ( Bombeiros, e Proteção Civil) geririam uma o comando das operações de socorro, e a da ANPC a operação de proteção civil, ambas se envolveram na gestão das operações de socorro alheando-se parcialmente da gestão da operação de proteção civil. Inúmeras comunicações ficaram sem resposta via canais alternativos de banda alta que não estavam a ser monitorizados, ou cuja a receção era atenuada pela proximidade de frequências e antenas, sem que qualquer uma das viaturas disponha de filtros de rejeição, o que determina que uma emissão anule a receção a todos os outros equipamentos convencionais e digitais em frequências próximas. As viaturas de comando e comunicações foram pagas a preço de outro e estão mal concebidas porque privilegiam comodidade em detrimento de caraterísticas técnicas dos meios de radiocomunicações, já que nenhum dos rádios ali instalado sofreu ajustes de frontend para este tipo de operação;
    Como a operação não foi desde logo encarada como de proteção civil, não foram atempadamente ativados os meios adequados, ou sequer o plano municipal de proteção civil em devido tempo, tendo tardiamente sido ativado o plano distrital,quando na realidade já deveria estar ativado o plano nacional que não chegou a ser ativado;
    Atendendo a que as autoridades e agentes de proteção civil não encaram a operação de proteção civil, alguns dos equipamentos fundamentais para contacto local com a população não foram atempadamente ativados, ninguém no posto de comando assumiu as comunicações com radioamadores e operadores da banda do cidadão, apesar de se saber que muitas localidades estavam privadas de comunicação, deixaram-se assim as populações à mercê da própria sorte como na idade da pedra, até que lá chegasse um mensageiro;
    Os radioamadores que estiveram no terreno não foram monitorizados nem no posto de comando nem no SMPC, no primeiro porque ninguém se lembrou ou sabe operar tais equipamentos, e no segundo porque sequer dispõe de tais equipamentos e pessoal habilitado para o operar, o que determinou que por exemplo radioamadores em zona sem cobertura de telemóvel tivessem de solicitar a outro radioamador via repetidor VHF do Alto de Trevim que informassem de outra estrada tomada pelas chamas que não fosse a intervenção de voluntários de proteção civil, que avisaram os automobilistas, poderia ter sido uma segunda "estrada da morte", tendo o radioamador que recebeu as coordenadas transmitido a mensagem ao CDOS de Leiria via 117;
    Havia na zona algumas habitações e viaturas com rádio CB, mas ninguém no posto de comando monitorizou tal frequência;
    Os radioamadores cebêistas, e até rádio-operadores da banda livre PMR446 nunca deixaram de ter as comunicações expectáveis para os meios que usaram, mas os intervenientes nas operações de socorro não conseguiram com um sistema de milhões ter o que radioamadores e rádio-operadores tiveram com " tostões";
    Exige-se alegadamente tantos requisitos ao operadores de telecomunicações da ENB/LBP que trabalham para a ANPC, mas nem sequer conhecimentos de radioamador se exige, pelo menos para saberem porque raio levantam a antena de HF da viatura de comunicações, aquela que por vezes até serve para ouvir a bola, mas não alguém a pedir socorro o a informar que vai socorrer;
    Embora regulamentado, algumas viaturas de combate a incêndios que estivaram no terreno não tinham instalado rádio de VHF banda-alta que possibilitasse servir como redundância;
    A GNR dispõe de infraestruturas móveis de reserva em radiocomunicações que poderiam ter sido acionados para o local, nomeadamente para linkar SIRESP com banda Alta. Tanto um camion como um jipe dos GIPS, que não foram mobilizados. Este jipe está encostado e nunca foi usado exceto em exposições de meios, carecendo de uma profunda revisão, mas o essencial para melhorar as comunicações neste caso está lá e estava operacional na ultima vez que foi visto;
    O RSB de Lisboa tem algumas viaturas com rádios de HF que poderiam comunicar com o ICOM IC706MKII que está instalado no posto de comando, mas dos operacionais do RSB no terreno ninguém foi formado para operar aquele equipamento, e no posto de comando ninguém sabe usar o rádio de HF.

Existia rede SIRESP no local e momento onde perdeu a vida um Bombeiro? Eu não sei, mas tenho curiosidade em saber!

Em suma as comunicações falharam por diversos motivos, técnicos, e humanos, mas essencialmente porque as comunicações foram geridas por operadores rádio, e não por especialistas em radiocomunicações de emergência.

O que aconteceu ali com o SIRESP foi o mesmo já já havia acontecido nos incêndios na Ilha da Madeira há poucos anos, pelo que me questiono quantas pessoas afinal terão de morrer para que admitam de uma vez por todas que tal como está a única coisa que o SIRESP garante são vulnerabilidades potencialmente trágicas, pago a preço de ouro!

Questione-se à Cruz Vermelha se tinha comunicações na sua rede própria, e quanto custou essa rede!

Porque foi desmantelada a rede 150 da GNR? Porque fizeram o mesmo com a rede de VHF banda baixa dos Bombeiros?

O SIRESP tal como está é uma rede celular com ligação por cabo de dados entre si, que em caso de incêndio é muito vulnerável.

COMO PODERIAM NÃO TER FALHADO AS COMUNICAÇÕES?

    A rede SIRESP deveria ter sido usada somente como rede Estratégica e deste modo teria cumprido a sua missão se para o local tivessem sido enviadas as duas pick.-up´s da ANPC que alegadamente estão inoperacionais, ou em alternativa uma das viaturas da GNR que dispõe de link SIRESP para VHF convencional;
    Se todos os operacionais tivessem rádio de VHF Banda-Alta haveria alternativa quer através do repetidor B Lousã, quer através do repetidor B-candeeiros, ou mesmo através do repetidor B-Estrela. Porém o B-Lousã já estava com algum tráfego resultante do incêndio em Góis, que inteligentemente se socorreram do VHF convencional. A maioria das viaturas de bombeiros exceto as do RSB-Lisboa tinham VHF banda alta, pelo que não se compreende que não o tenham usado;
    Todos os canais simplex sejam de manobra táticos ou de comando, deveriam estar monitorizados no posto de comando e estações remotas em viaturas de comando ou outras só com esse propósito, garantindo-se assim que ao invés do que aconteceu nenhum pedido de socorro ou ajuda ficaria sem resposta em vias que embora possam não ser dedicadas ao efeito seriam uma alternativa. Esta resposta na falta de bombeiros para a operação pode ser assegurada até por radioamadores integrados como voluntários de proteção civil e previamente treinados para o efeito. Esta colaboração dos radioamadores deve estar previamente definida para que estes possam articular-se com o CDOS, ou com o posto de comando, de forma integrada sem causar constrangimentos à operação;
    Obviamente que para tudo isto funcionar todos teriam de ter rádio VHF com antenas adequadas à operação em meio florestal (coisa que não têm e nunca tiveram), mas também teria de haver outra hierarquização e disciplina nas comunicações, nada que não se resolva se para isso houver vontade;
    A simplificação de tudo isto passaria por colocar no ar logo após a deteção do foco de incêndio, um helicóptero de observação responsável por ordenar os preventivos cortes de vias, para evitar situações como a "estrada da morte", tendo este meio aéreo que possuir a bordo um repetidor VHF móvel para assegurar a comunicação em terra, bem como um operador dedicado à monitorização de um canal simplex dedicado a pedidos de socorro;
    A ligação redundante ao CNOS deve ser efetuada em HF, sem necessidade de qualquer repetidor, rede SIRESP, ou satélite, mas para isso importa que todos os operadores estejam aptos a operar o rádio de HF, uma vez mais aqui qualquer radioamador o saberia operar. É claro que o telefone de satélite pode ser uma solução para este efeito, mas muito dispendiosa e não tão prática.

    Deste modo não haveria qualquer possibilidade de falha nas comunicações, desde que se inclua no local um especialista em radiocomunicações de emergência e catástrofe, ao invés de Engenheiros de telecomunicações e outros licenciados especialistas nas suas áreas técnicas mas sem noção de como se gerem as comunicações de emergência, ou catástrofe.

João Paulo Saraiva
Digo eu, que não percebo nada disto!

Comentários

  1. O telefone satélite só funciona se não for uma emergência que afecte os satélites:
    Explosão nuclear na alta atmosfera ou raios solares.
    Rádio é sempre mais seguro...

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