Há uma relação entre os incêndios e o orçamento geral do Estado, e das autarquias...

Quando em 2012 analisei o orçamento geral do Estado (OGE), já antevia o acréscimo significativo na área ardida e nas tragédias para o ano seguinte. O mesmo aconteceu em 2016, e infelizmente os resultados estão aí. 

O país sempre ardeu mais quando se investe mais na intervenção que na prevenção, e não me canso de o referir ano após ano.


Quando no ano passado analisei o OGE recorri às redes sociais para manifestar a minha indignação pelo reiterar dos erros do passado, pois não vi as recomendações da assembleia da republica em relação à mudança das políticas de combate aos incêndios plasmadas no OGE, mas vi lá plasmadas as reivindicações da Liga dos Bombeiros Portugueses, e das empresas de meios aéreos que intervém no combate aos incêndios. Não vi até então coragem para cortar o mal pela raiz, e se investir mais na prevenção que na intervenção, embora a verdade se diga, que nunca antes tinha visto tantos falarem tanto do assunto, e tantas promessas de mudança.


Só as boas vontades não evitam incêndios, é preciso mais do que isso, é preciso que conste do OGE uma alínea para prevenção dos incêndios, onde a parcela do valor atribuído, seja superior ao valor da parcela destinada ao combate aos incêndios, só deste modo, e apesar de tal provocar o descontentamento dos agentes do negócio dos incêndios, a tendência de crescente número de incêndios todos os anos será invertida. 


O mesmo se passa ao nível dos orçamentos das autarquias, onde a preocupação com a sustentabilidade e crescimento das corporações de bombeiros é manifestamente mais significativa de que com a mitigação dos riscos, basta analisar as parcelas.


O aumento das equipas de sapadores florestais é sem dúvida a par de outras medidas um passo importante para a prevenção e mitigação, mas só por si não chegam.
Em minha opinião, a par do aumento do número de equipas de sapadores florestais, e atendendo ao facto de se terem extinto os guardas florestais, faria todo o sentido apostar no aumento de efetivos, recursos técnicos, e unidades do GIPS da GNR em todos os concelhos de Portugal Continental e Insular. Não é a presença de outras forças não policiais que vai dissuadir a prática dos crimes de incêndio florestal ainda que por negligência, por vezes populares agridem mesmo os bombeiros que os tentam dissuadir desses comportamentos de risco, pelo que aos órgãos de policia criminal deve competir o reforço dessa ação preventiva. 

Por outro lado, não se observa investimento nas populações locais de modo a viabilizar a prevenção, autoproteção, e resiliência, e enquanto não se envolverem efetivamente as populações nestas, ao invés de somente serem chamadas a pagar taxas e impostos que revelam não trazer contrapartidas,  dificilmente se mitigará o risco, ou se diminuirá a crescente dimensão dos incêndios e outros riscos e seus trágicos efeitos. 

Toda a aldeia do interior deveria possuir um sistema de combate a incêndios, com bocas de incêndios e mangueiras e agulhetas junto das casas, sistemas alimentados por tanques de grande capacidade, que seriam alimentados por água das chuvas ou de rios, e teriam bombas para assegurar a pressão necessária, mas nisto as autarquias não investem. Todas as aldeias deveriam ter inventariados os recursos técnicos e humanos preparados para a prevenção, intervenção, e recuperação em situações de proteção civil e socorro.

Não se observam políticas de proximidade no apoio a quem não pode limpar o mato das suas propriedades, por vezes proprietários que fazem parte da enorme fatia da população envelhecida e já incapaz de limpar ou mandar limpar o mato e vegetação nas suas propriedades.

Está quase tudo por fazer neste domínio, mas falta a coragem política dos autarcas que na sua maioria nada fazem neste sentido, nem mesmo após tal ter originado 64 mortes.

Olho para as propostas eleitorais e vejo mais do mesmo, como se nada tivesse acontecido no dia 17 de junho deste ano. Observo nos programas eleitorais para as eleições autárquicas o típico sectarismo e popularismo a que já nos habituaram os “tontos alegres” candidatos em quem o povo vota por simpatia ou amizade, ignorando a inocuidade das propostas no que concerne à proteção civil e ao socorro das populações.

Sou na atualidade apartidário, deixei de acreditar em partidos, mas não deixei de acreditar nas pessoas, algumas.  Geralmente acredito nas pessoas não envolvidas em partidos, mas envolvidas em causas, que desejam fazer a mudança para melhor, no que é atinente à proteção e segurança coletiva. É com esses que quero contar para construir um futuro mais seguro para todos, sem partidos, mas com políticas adequadas.


Não. Não sou candidato a nada, exceto a estar ao vosso lado para trabalhar rumo à autoproteção e resiliência, e com ela a segurança coletiva e a felicidade do cidadão comum. 

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