A ignorância em proteção civil mata



Ainda anteontem, um jovem radioamador me enviou uma mensagem através do Messenger dizendo que, caso o voltasse a convidar para grupos ou páginas no Facebook sobre proteção civil, me removia dos amigos dele no Facebook, ao que de imediato o removi e bloqueei, pelo simples facto de que já não tenho nem idade nem paciência para lidar com ignorantes, que nem para sair da cama em caso de incêndio em casa ou no prédio, estão preparados.
Embora esta situação me ocorra frequentemente com radioamadores, de um modo geral a população é ignorante em proteção civil, não fazem na maioria dos casos ideia de quais as géneses dos diferentes perigos e raramente identificam mais de 50% das vulnerabilidades inerentes a cada perigo, tal como ficou demonstrado nos incêndios, mais acentuadamente em 2017, na atual pandemia, e em muitas outras situações de desastre ao longo da história do nosso país.
Mas voltando ao radioamador jovem que teve aquela infeliz “saída”, disse-me que “eu sou radioamador, não quero ser bombeiro”, e aqui está a prova da sua ignorância, como aliás a maioria dos cidadãos para quem proteção civil é Bombeiros, e não percebem sequer que se assim fosse não existia uma Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, bastaria haver Bombeiros.
A maioria dos cidadãos nunca leu e compreendeu seguramente o artigo 1º da Lei de Bases de Proteção Civil, diploma tão invocado na atualidade a propósito da pandemia, e por isso não sabe que a atividade de proteção civil é desenvolvida por “TODOS OS CIDADÃOS”, mas vejamos o que diz então o artigo 1º da Lei 27/2006:
“Artigo 1.º
Proteção civil
1 - A proteção civil é a atividade desenvolvida pelo Estado, Regiões Autónomas e autarquias locais, pelos cidadãos e por todas as entidades públicas e privadas com a finalidade de prevenir riscos coletivos inerentes a situações de acidente grave ou catástrofe, de atenuar os seus efeitos e proteger e socorrer as pessoas e bens em perigo quando aquelas situações ocorram.”
Talvez por ironia do destino, um dos radioamadores que também me disse há uns dois ou três anos na feira da rádio de Moscavide que Radioamadores não tinham nada que ver com proteção civil porque isso é para os Bombeiros, está ou esteve recentemente a lutar pela vida fruto da COVID-19, certamente porque estava bem elucidado sobre as vulnerabilidades de contágio, e poderia aqui enumerar um sem número de casos de pessoas, inclusive meus familiares diretos e indiretos, conhecidos e amigos, ou até membros das Associações de que faço parte, que pensam da mesma forma, e que só se lembram do que vou “apregoando” quando o “azar lhes bate à porta”.
Em minha modesta opinião, mais do que o futebol, ou outras crenças, a Proteção Civil, tal como o Socorrismo, a Saúde, e a Segurança, são áreas respeitantes a todos os cidadãos sem exceção, porque os perigos não conhecem classes, e nenhuma classe ou categoria de cidadãos está imune a qualquer perigo, podendo contudo estar menos vulnerável se dominar as medidas de autoproteção.
Mas façamos uma síntese da mentalidade do comum cidadão…
As revistas, livros e jornais em papel ou on-line de: automóveis, tecnologias, crenças, desportos, sexo, e um sem número de outras, são mais procurados do que os artigos de socorrismo, sobrevivência, proteção civil, e isto meus caros concidadãos, define o tipo de sociedade que somos. Aliás, eu sou impopular precisamente pelo facto de reiteradamente, e parafraseando Amália Rodrigues, “até que a voz me doa”, confrontar a todos com o facto de sermos um povo maioritariamente ignorante no que à proteção civil é atinente. Chego mesmo a acreditar que, a ignorância é a disciplina em que a maioria do povo tem melhor nota.
Bem sei que sou apelidado de acutilante, de agressivo na forma de escrita, mas digam-me, há alguma forma não agressiva de fazer este povo interessar-se mais pela sua autoproteção do que por festas, romarias e desportos?
Quero agradecer a todas e a todos a atenção dispensada, sabendo que muitos ter-me-ão ficado a odiar, ou comigo terão ficado ainda mais desagradados, é aqui que lamento desiludir-vos ainda mais, não me passa sequer pela ideia tentar agradar a todos, apenas me passa pela mente tentar salvar o maior número possível de pessoas (possíveis de salvar), através da consciencialização dos perigos e vulnerabilidades, e das recomendações de autoproteção.
Digo eu, que não percebo nada disto
João Paulo Saraiva
CT1-EBZ /APROSOC 001

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