Radiocomunicações Cidadãs e seu Associativismo

Mais um dos meus devaneios matinais...


 

Quando apelidei de “Radiocomunicações Cidadãs” às bandas de acesso fácil aos comuns cidadãos, como sejam a Banda do Cidadão, o PMR446, o LPD433, o SRD862 /1.2/2.4, entre outras, nunca antes tinha ouvido tal termo e, acreditei estar a gerar um termo que dignificasse aquelas bandas e, fosse gerador de um novo conceito, o das pessoas com nível nas comunicações ao invés do típico calão que marca negativamente a história em especial da CB pelas conversas de escárnio e maledicência, ou mesmo os grupos em que a vulgaridade e os vernáculos dominam as comunicações via rádio em certos canais. Pensava assim criar uma nova comunidade com um nível superior e diferenciador na forma de estar e comunicar, que não se confundisse com os já existentes, não para renegar a história, mas sim para que outros vissem na CB e demais bandas livres o interesse que ainda não tinham vislumbrado.

Desde a década de 90 mantive diversos projetos em curso na banda do cidadão e mais tarde nas demais bandas livres e houve muitos e bons momentos em que começavam a surgir grupos de pessoas mais educadas e com diálogos interessantes, geralmente conversas técnicas sobre os mais diversos temas, mas os defensores das más práticas acabaram sempre por demover os defensores das boas práticas e, na maioria dos casos abandonaram as radiocomunicações e, a minoria tornaram-se radioamadores, embora no radioamadorismo tambem se encontrem defensores da anarquia e até acérrimos praticantes da boçalidade. Na soma de todas as experiências, em plena pandemia em 2020, mais propriamente no dia 18 de Abril, decidi com o apoio de outros colegas dar corpo a uma organização que pudesse congregar esses praticantes de bons costumes e representar esses valores que defendia-mos, tais como: a legalidade, o combate à discriminação, a promoção das boas práticas e dos procedimentos radiotelefónicos, o não emprego de linguagem obscena, o apoio aos iniciantes, o incentivo aos mais interessados para a iniciação e o despertar desse interesse; bem como de todas aquele que creio o mais nobre de todos, o emprego destes colegas em missões de auxilio a outros via rádio face a situações de acidente grave ou catástrofe, em zonas privadas de acesso a telecomunicações de acesso público.  

Procurei sempre através de métodos e testes pedagógicos, compreender sociologicamente os interesses do grupo que me acompanhava, até que, conclui em jeito de total desilusão que, a maioria era mais adepta daquilo a que apelido de “radioparolice” do que dos valores que eu acreditava que todos defendíamos. Tendo compreendido essa realidade, decidi oferecer a Associação à maioria, respeitando os valores democráticos, uma Associação que criara com fins que apenas eu e mais outros dois colegas prosseguíamos. Talvez tenha sido uma das maiores traições que já sofrera (inclusive por parte de pessoas que julgava conhecer à décadas), já que todos os que admiti afirmavam ser defensores dos mesmos valores que eu, mas na prática assim não era.

Ofereci e retirei-me da presidência, mas a ingratidão não tardou a escalar para o joco que teve o seu pico, brandiu e tornou-se praticamente etérea pelo menos aparentemente, tendo muitos acabado por me dar razão, outros mesmo vindo ter comigo para pedir desculpas, outros regressado à casa mãe e outros que o solicitaram e não admiti para preservar os valores da outra organização a que ainda presido.

Olho para trás e vejo que a Banda do Cidadão é demais bandas livres é que perderam, pois com os valores que inscrevi nos meus projetos, na fase áurea a atividade era constante, o interesse crescente e, a adesão uma bola de neve. Na atualidade da outra organização que lhes ofereci, a atividade é pontual e esparsa, descentralizada sim, mas sem coesão, com objetivos tão vulgares quanto os de uma qualquer outra organização ou grupo informal. Perdeu-se o foco a troco de umas palavras via rádio, perdeu-se o nível que caracterizava a organização e que se reconhecia pelo prefixo que caracterizava o nome de estação, trocou-se a pontual quantidade pela constante qualidade e, é mais uma organização de DX, desrespeito pela legalidade, conversa da treta, banalidade e vulgaridade.

Ainda assim, mantenho boas relações com algumas das pessoas a quem ofereci uma Associação, algumas destas merecem-me todo o respeito e consideração, mas, curiosamente dessas, apenas duas ou três estão ativas nas radiocomunicações, as outras perderam também o interesse, porque será?

É o país que temos, com o povo que temos. É mais uma lição aprendida que me diz que, é mais fácil encher um estádio de futebol ou um recinto de festa, que um grupo de voluntários para auxiliar outros cidadãos dispostos a, para isso se equiparem e treinarem. Mas é mais do que isso, é a inversão dos valores em que acredito e que determinam que, estou condenado a liderar um grupo muito restrito e seleto, mas também um grupo de amigos que, não trocam a história da nossa amizade e os valores que nos unem, pelo populismo ébrio de uns momentos de palermices.

Lá diz o ditado, “antes poucos e bons…”, mas é preciso entender que o conceito de “bons” não é igual para todos e, seguramente, não serei bom pera muita gente e, sê-lo ei para outros.

Continuarei a lutar pelo que acredito, aprendendo com as lições que a vida me dá e procurando fazer diferente sem perder de vista os valores que me caracterizam. Uma coisa é certa, da atividade que desenvolvo, muitas outras iniciativas têm surgido, infelizmente, nenhuma delas conducente à uma sustentada e crescente segurança coletiva dos cidadãos baseada na reciprocidade do respeito e dos valores mais nobres da nossa sociedade, facto que lamento, pese embora o facto inegável da sua popularidade.  

73/51

Estação DUKE/CT1EBZ

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