As Associações de Proteção Civil e as Unidades Locais de Proteção Civil...

Não obstante ao facto de considerar que o Sr. Presidente do Conselho Executivo da Liga dos Bombeiros Portugueses foi extremamente petulante e ordinário no congresso extraordinário da Figueira da foz quando se referiu às unidades locais de proteção civil e às associações de proteção civil, palavras que não me merecem sequer qualquer tipo de outras considerações porque creio que dali nada de racional se pode esperar, importa aqui fazer algumas considerações sobre o que se pretende que sejam estas organizações e que não o estão a ser fruto de políticas próprias do partido desse tal individuo que acima refiro.

1º As Unidades Locais de Proteção Civil (ULPC) estão reguladas por regras retrogradas e que não se adequam às necessidades reais, fruto de políticas néscias dos mais diferentes Governos, que penso que já todos nós estamos habituados, e ao aproveitamento político também. As ULPC têm servido essencialmente como marketing político-eleitoralista, bem como para conseguir mão de obra barata ou gratuita para a vigilância florestal que devia ser paga pelo menos como é paga aos bombeiros, mas que os mais desprezíveis autarcas usam para exploração de mão de obra, poupando assim aos cofres das autarquias verbas para os luxos e mordomias a que já nos habituámos observar nesses seres, alguns dos quais abomináveis.

2º As Associações de Proteção Civil, ou as Associações de Proteção e Socorro, não são constituídas para se substituírem aos agentes do SIOPS, mas sim para ajuda de proximidade, ajuda de vizinhança, intervenção primária até à chegada dos agentes do SIOPS, e somente quando esses não têm capacidade de responder em tempo útil podem assumir a gestão de um qualquer teatro de operações por incapacidade de resposta do sistema. Mas importa que tenhamos consciência de que embora especializadas, estas associações não têm os recursos de que dispõe o SIOPS ou mesmo o Sistema nacional de Proteção Civil, e que portanto esta ajuda e intervenção é limitada às competências e capacidades instaladas em cada uma destas associações. É por isso recomendável que estas organizações tenham parcerias com as autarquias, mas também é sabido que muitas das autarquias receiam este tipo de parceria, e que, haja a coragem de se dizer que  têm muitas vezes como principal opositores os dirigentes das associações de bombeiros, que receiam perder apoios financeiros que possam ser encaminhados para estas associações, são esses dirigentes e elementos de comando de bombeiros o principal entrave à co-existência de associações com fins de proteção civil no SIOPS, porque estas são vistas como uma ameaça ao protagonismo vermelho.

3º As associações de proteção civil na sua maioria desenvolverão somente actividades de proteção e socorro, pelo que em muitos casos não faz sentido a denominação de associação de proteção civil, embora proteção civil queira dizer "civis a proteger os civis", a nossa legislação deturpa conceitos com simbioses dispares dos diversos conceitos que podemos encontrar no resto do mundo civilizado.
Mas importa também salientar que a proteção e socorro não é apenas incêndios de verão, nem a sua detecção, mas sim tudo o que envolve a prevenção e mitigação de riscos e vulnerabilidades, e a intervenção  no socorro de pessoas e bens, bem como na recuperação e reabilitação, logo, falar de proteção e socorro é falar de conhecimentos em proteção civil, de intervenção no socorrismo, busca e salvamento em todas as suas vertentes, mas também da intervenção na fase de resiliência, sem descorar o apoio social e humanitário nesses cenários, tudo isto ao nível táctico-operacional. A proteção civil é a estratégia e a política, bem como a intervenção pesada de reserva  estratégica, a proteção e socorro é a acção táctico-operacional no terreno, e é aqui que ao nível da freguesia , do bairro, do concelho, ou mesmo através de organizações de proteção e socorro móvel, que as associações de voluntários são importantes, mas nunca para se substituírem aos profissionais ou gerarem desemprego ou precariedade como acontece com as associações de Bombeiros e a CVP, mas sim para constituírem grupos de amadores ( os que amam o que fazem e por isso sabem mais e são capazes de fazer melhor em menor escala), no sentido de valorizar a capacidade de resposta e sua qualidade.

4º Uma das formas de estes voluntários de proteção e socorro colocarem os conhecimentos em prática, é irem regularmente para a rua praticar acção social, onde têm contacto com  as necessidades de alojamento temporário, de situações doença e acidente onde podem aplicar os conhecimentos de socorrismo, fenómenos epidemiológicos e outros que requerem resposta imediata, tudo isto possibilita o treino até de articulação com os agentes do SIOPS.

5º As associações de proteção e socorro não podem ser constituídas por gente que quer a todo o custo com ou sem recursos ter uma pseudo corporação de bombeiros, mas sim ser constituídas por aqueles que sendo especialistas ou tendo vocação para tal, e não se revêm ou não têm disponibilidade ou motivação para ser bombeiro, funcionário do INEM, voluntário da CVP ou outras, desejam manter uma cultura de constante preparação para a autoproteção, ajuda de proximidade, e resiliência, uma espécie de bons samaritanos em moldes existentes em muitos países civilizados, à semelhança do que acontece com as CERT - Community Emergency Response Team´s nos EUA, ou mesmo dos voluntários da organização Hatzola / Hatzalah
Ser voluntário de proteção e socorro não pode ser uma espécie de clube de frustrados que queriam ser outra coisa, tem de ser associações de pessoas que são o que desejam ser e se identificam com o que fazem em prol de uma sociedade mais segura. 
em Israel, UK e outros países.

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