RADIOAMADORES EM COMUNICAÇÕES DE EMERGÊNCIA E CATÁSTROFE

(artigo de opinião publicado no facebook em 8/6/2016)
Fui ontem consultado por um colega radioamador das regiões autónomas sobre exercícios de radioamador em comunicações de emergência. É para mim sempre particularmente aprazível poder dar o meu contributo para o desenvolvimento de tudo quanto possa melhorar a proficiência das comunicações de emergência e catástrofe.
No diálogo foi possível concluir que no continente os radioamadores não estão à frente do que fruto de igual boa vontade se vai fazendo nas regiões autónomas cometendo os mesmos erros comuns.
Neste contexto, e porque se criam associações por vezes com esse intuito de assegurar as comunicações alternativas de emergência, algumas das quais com protocolos locais ou nacionais cujo valor está indexado à qualidade do papel em que foram impressos e, para que não digam que critico sem apontar soluções, entendi deixar aqui algumas palavras aos colegas radioamadores das associações do continente (os que sabem tudo), já que os das regiões autónomas têm quando não sabem, a humildade de perguntar.
Não critico a existência de mais associações, pois quantas mais forem mais se potência o radioamadorismo e isso é útil.

O primeiro erro é usar exercícios atrás de exercícios para testar o que se sabe que vai falhar. Tudo deveria começar por planear e testar realizando estudos e, apresentando o resultado desses estudos a toda a comunidade radioamadoristica para debate e posterior validação por esta comunidade cientifica. Após aprovados esses estudos, deveriam ser remetidos às autoridades locais de proteção civil (eventualmente em articulação com a ANACOM) as propostas de inclusão da informação técnica no que concerne às características dos equipamentos e das equipas de radioamadores vocacionadas para as comunicações de emergências e seus planos B e C. Por outro lado, dotar os radioamadores voluntários de, formação de integração no contexto de SIOPS e tipificação de meios dos agentes de proteção civil, bem como de noções sobre recursos e eventual tipificação de meios das entidades com especial dever de cooperação com os agentes de proteção civil.
Sem que os coordenadores dessas equipas de radioamadores possuam pelo menos o 1º nível de formação em operações de socorro, não é expectável que sejam capazes de delinear uma ordem de operações ou qualquer tipo de planeamento com a capacidade de antevisão dos vários cenários possíveis, sejam eles de génese natural, tecnológica, complexa, ou mista. Não é expectável que consigam delinear um plano B ou C.
Por outro lado, o que importa não é andar a saltar de bandas aumentando a probabilidade de desencontro, importa que estejam definidas as bandas e frequências a usar para comunicações a curta, média, longa, e ultra-longa distância, bem como alternativas em caso de frequência ocupada ou interferida por fator natural ou tecnológico.
Importa ainda que dos tais estudos se retire a informação sobre a tipologia de antenas e características mínimas dos E/R´s para se conseguir assegurar a comunicação entre pontos fixos ou móveis em cada região, bem como a necessidade de existência de estruturas de campanha para viabilizar as comunicações e, neste contexto, embora alguns radioamadores sejam especialistas, muito há a fazer.
Importa ainda que sejam realizados testes em ambientes saturados de RF e que, dai se retirem as conclusões sobre os tipos de equipamentos que ali funcionam, geralmente os de radioamador não funcionam, o que leva os radioamadores a usar equipamentos profissionais devido às características de seletividade e rejeição dos filtros dos recetores.
Conclui-se ainda quase sempre que, para anular interferências dos serviços de emergência, é em VHF ou UHF necessário recorrer a filtros de rejeição, que raramente os radioamadores usam pelo facto de pretenderem a maior sensibilidade possível, já que estão essencialmente vocacionados para comunicações a maiores distâncias e em locais livres de interferências.
Importa ainda que estejam dotados de filtros na emissão, de modo a não provocarem interferências / atenuação de receção nos equipamentos dos serviços de emergência, um fator que nunca existiu preocupação de avaliar, e tal só pode ser verificado com testes conjuntos com especialistas e equipamento de analise.
Em suma e muito mais havendo para tecer sobre o assunto, nada do que está feito garante alguma proficuidade de comunicação alternativa por radioamadores, já que o que existe é feito "na desportiva" e sem um sério compromisso com a salvaguarde de vidas humanas ou bens. Para os desconhecedores da realidade das radiocomunicações num teatro de operações, o facto de terem um equipamento caro da marca e modelo tal, é uma garantia, mas, para quem domina de facto a realidade, o mais caro equipamento de radioamador seja lá em que banda for, só por si não dotado de filtros e se não ajustada a potência ao mínimo que possibilita a comunicação fiável e de modo a minimizar interferências, apenas garante a forte probabilidade de perturbar outras comunicações, embora muitas vezes essa perturbação seja silenciosa já que apenas atenua a receção em outros equipamentos dos serviços de emergência ou outros. A tendência do radioamador é a de usar o máximo de potência, quando nada poderia ser mais errado em teatro de operações de socorro, é por isso necessário antes de mais, sensibilizar os radioamadores para este e outros erros comuns.
Mas os radioamadores e o seu conhecimento não tem aplicabilidade somente para assegurar comunicações alternativas, podem por exemplo dar o seu contributo com recursos aos seus meios tecnológicos, na localização de uma aeronave caída ou desaparecida dos radares, bem como de embarcações desaparecidas ou em situação de emergência.
Por ultimo gostaria de deixar uma nota sobre os modos de fonia digital. Em meu entender estes ainda não atingiram a simplicidade e fiabilidade necessária à sua aplicabilidade em emergência, nem mesmo a sua utilização está suficientemente massificada para constituir algum tipo de alternativa em cenário de catástrofe. Seria preferível que se concentrassem nas comunicações de amador por satélite a partir de estações portáteis.
Por favor não interpretem como crítica, mas sim como mera opinião.
73´s e bons QSO´s
CT1-EBZ

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